Acho que
não são todas as pessoas que tem a mesma sensação que eu. Todos os sentidos funcionam em conjunto
elevando a mente em um estado de transe preenchendo todos os vazios que a vida
traz - bom, nem todos.
Sentir a
trepidação nos pés e nas mãos a cada torção do punho. O odor de poeira e fumaça
entrando seco pelas narinas junto ao ar frio. Esse mesmo ar frio que entra
pelas mangas da jaqueta. O gosto do cigarro misturado ao do café que não sai da
língua. O belo som do cano aberto gritando pela sexta marcha que não existe. Os
feixes de luz dos carros passando à esquerda e o reflexo da lua nas pequenas
ondas do rio à direita. Todos os sentidos sentidos em um compasso perfeitamente
impossível de explicar.
Você
esquece a falta de dinheiro para fazer tudo que se tem vontade, a falta de
tempo para ler aquele livro ou terminar de escrever o seu próprio, as brigas em
casa por não ter colocado o lixo para fora ou pelo próprio dinheiro em si, o
chefe ligando sobre o trabalho que você tem que fazer, pois ele não tem competência
de fazer por si... Tudo desaparece a cada quilômetro.
O tempo que se perde no velocímetro, se ganha em
liberdade. Parar em um cruzamento em meio aquela cidade vazia na madrugada,
podendo escolher o sentido em que as rodas vão girar. Todas as escravidões do
cotidiano vão ruindo a sua frente. Escravidão do dinheiro, do chefe, da esposa,
do gerente do banco, da fila do supermercado, do cartão de crédito, do governo,
dos impostos, da carteira de cigarro.
Em alguns quilômetros a vida corre a frente de
seus olhos e você pensa sobre tudo que aconteceu e pode acontecer e solta o
punho deixando a moto reduzir a velocidade. E aí, você acelera.
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