Tenham bom senso

"Não é porque eu escrevo sobre drogas, alcoolismo, mulheres fáceis, noites difíceis, depravação e sexo sem compromisso que eu sou um completo desregrado. Compreendam o limite entre realidade e ficção ou simplesmente morram nesse mundo politicamente correto que lhes consome. A arte imita a vida e vice versa, mas isso nunca será uma regra"


segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Essas noites de segunda

Acordei por volta das três da tarde. Uma fresta na veneziana fez minhas pupilas dilatarem com a claridade que batia direto no meu rosto. Mantive os olhos abertos somente tempo suficiente para visualizar o esqueiro e o cigarro na janela acima da cama. Acendi de olhos fechados."Porra do caralho... ainda é dia", pensei alto. Em algum momento após apagar o cigarro no cinzeiro, sem saber como, eu apaguei.

Abri os olhos novamente em uma penumbra onde um leve feixe de luz avermelhado entrava pela janela atravessando o quarto até refletir no espelho. "Essa é a hora de levantar". Sentei na cama meio tonto, me espreguicei e apoiei na cômoda para conseguir levantar. Era aquela boa e velha 'dor em tudo' que você sente quando mistura cerveja, whisky e tequila, vomita no chão do banheiro do bar, toma um soco de um gordo mais bêbado que você e ainda recebe um boquete no estacionamento.

Minha longa peregrinação do quarto até o banheiro foi dolorosa. Eu sentia uma enorme dor no joelho que não fazia ideia de que momento da noite poderia ter sido, fora a tontura e todo o resto. Entrei no chuveiro, deixei a água fria, preparei a escova de dentes para eu me escovar no banho como de costume e me sentei dentro do box com a água batendo na minha cabeça. Sentia a água gelada que parecia fazer meus ossos trincarem num choque térmico. Mijei ali mesmo sentado.

Depois de um bom banho, era um novo homem. Enquanto passava um café, lembrava como eu gostava de achocolatado na adolescência. Fui divagando até a época em que eu só tomava refrigerante, e me perdi ao perceber em que momento eu troquei o refrigerante por cerveja, a cerveja por whisky e quando comecei a passar café e misturar whisky para tomar ao acordar. 

Terminei o café e era hora de sair. Precisava encontrar um amigo que precisava de ajuda numa mudança no dia seguinte. Entrando no quarto eu olho e tem uma mulher deitada de bruços bem na ponta da cama. "Por deus, como eu não vi isso antes". Tinha longos cabelos negros e devia ter seus 40 e poucos anos de acordo com os pés. Sim, os pés. As únicas provas da real idade de uma mulher nesta era de plásticas, silicones, etc. Estava nua, com uma enorme bunda para cima e com um corpo que parecia ser bem atraente. "Queria me lembrar", pensei.

Ela estava deitada numa posição estranha, como se tivesse sido jogada morta ali. Aproximei minha mão do pescoço dela e senti sua pulsação. "Melhor conferir". Definitivamente, eu não lembrava de pontos importantes da noite anterior. Inclusive de trazer uma mulher para casa e transar com ela. Lembro de ter sentido meu pau cheirando a sexo quando sentei no box do banheiro. Agora fazia sentido. 

Me vesti em silêncio. Minha calça preta, camisa jeans, minhas correntes, pulseiras, anéis. E encontrei a bolsa dela perto do seu vestido. Procurei uma carteira e achei sua carteira de motorista. Priscila. Era tudo que eu precisava saber. Caminhei até minha mesa onde peguei um papel e caneta e escrevi:

"Linda Priscila. Precisei sair para trabalhar. Adorei a noite. Me ligue e vamos jantar. Quero te ver mais vezes de bruços na minha cama. 
PS: Tem café passado na térmica azul. Ao sair é só bater a porta.
Beijos"

Deixei o bilhete no meu travesseiro ao lado dela e caminhei em direção a porta onde avistei aquelas duas linhas desformes sob o vidro da mesa de centro da sala. Um flash em minha mente lembrou de nós dois nus sentados no sofá com umas sete ou oito carreiras a nossa frente. Apalpei meus bolsos procurando qualquer nota e encontrei uma nota de 20 em forma de canudo. "Melhor impossível", pensei. Cheirei uma com cada narina, bati a porta e saí. 

Caminhando pela rua tentava lembrar mais detalhes da noite anterior. Nada. Em direção ao posto de gasolina lembrei que estava ficando sem cigarros e precisava de alguma coisa para pesar o estômago. Entrei na loja de conveniência, pedi dois Minister Brancos. O frentista respondeu, "São R$ 11 reais senhor." Tirei uma nota de 20 do bolso ainda em formato de canudo. Comecei a desenrolar até que vi que na ponta dela havia uma marca branca. Lambi a nota de uma ponta a outra e entreguei ao frentista. Ele me olhou atravessado, me entregou o cigarros e eu saí.

Na porta parei um instante lembrando que não comprei nada para comer. "Azar, necessidades são necessidades", pensei. Passando por um grupo de frentistas escuto um deles gritar, "Senhor, como está o joelho?".
"Está melhor. Sabe me dizer o que aconteceu?"
"Aquela morena bonitona praticamente atropelou sua perna e depois bateu no pilar aqui. O Senhor não lembra?"
"Claro que lembro, só queria confirmar meu nível de embriagues", todos rimos alto.
Agora estava claro minha dor no joelho e a desconhecida morena gostosa na minha cama. Segui meu caminho em direção a mais uma noite de segunda.

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