Tenham bom senso

"Não é porque eu escrevo sobre drogas, alcoolismo, mulheres fáceis, noites difíceis, depravação e sexo sem compromisso que eu sou um completo desregrado. Compreendam o limite entre realidade e ficção ou simplesmente morram nesse mundo politicamente correto que lhes consome. A arte imita a vida e vice versa, mas isso nunca será uma regra"


segunda-feira, 18 de julho de 2011

O dia de um Fulano qualquer...

O ‘Fulano’ acorda tranqüilamente sem o despertador e dá aquela espreguiçada deliciosa de quando se dorme o suficiente para acordar bem. Olha para o despertador ao lado da cama e são sete e meia da manhã. Para quem tem que acordar somente as 8 está ótimo. Levanta da cama, vai para o banheiro, liga o chuveiro. Enquanto dá àquela coçada no saco levanta a tampa do vaso com a outra mão. Tira o guri para fora e sente aquela sensação maravilhosa da primeira mijada do dia. Tira a roupa, da mais uma coçada olhando a barba por fazer, cabelo na lua e a cara de ‘acordei agora’ no espelho. Entra no chuveiro.
Sai do banheiro pelado, caminha tranqüilamente até o quarto e pensa: Não deve ser nem oito horas ainda. Bota uma bermuda daquelas bem surradas e vai para a cozinha tomar café. Pega um café de ontem mistura com leite em uma xícara e coloca no microondas. Enquanto o café esquenta, naquele um minuto e meio pensa na pauta da reunião que tem as dez da manhã. Toma o café com leite, come dois pães com margarina, presunto e queijo e sente-se mais que satisfeito. Dá aquela olhadinha básica, só para confirmar, no relógio da cozinha. Nove e meia. Puta que pariu, fudeu.
Levanta da cadeira e a cadeira cai no chão. Corre pro quarto olha o despertador e o ponteiro dos segundos não funciona. Joga o despertador na parede e pensa: - Isso que dá comprar essas porcarias do R$1,99. Lembra que a sua camisa está no varal. Corre em direção a área de serviço. Atravessando a cozinha descalço, tropeça na cadeira que não juntou do chão. Levanta a cadeira e acerta no dedão do pé. Xinga a cadeira. Abre a porta da rua e o seu pequeno Fila te abraça quase te derrubando no chão. Xinga o cachorro, que corre para a casinha. Pega a camisa no varal e atola o pé no cocô do cachorro. Xinga o cocô, e olha para o cachorro que está com o pote de comida mascado na boca. Vai até a torneira e lava o pé cuidando para não sujar a camisa. Vai para a área e pega uma jarra de comida para o cachorro que muito feliz se atravessa na frente quase lhe derrubando fazendo-o derrubar toda a comida no chão. Xinga o cachorro. Volta e começa a se arrumar.
Arruma-se perfeitamente e faltam 10 minutos para as 10. O trabalho é a 20 minutos de sua casa. Pega a pasta, olha no espelho, para na porta pensando se não esqueceu de nada. Quando abre a porta o cachorro lhe dá outro abraço e ficam duas marcas de patas no terno. Chuta o cachorro. Larga a pasta no chão para limpar o paletó. A sujeira não sai totalmente mas agora foda-se. Pega a pasta, sente um cheiro estranho e vê que largou a pasta em cima do outro cocô. Olha para trás e vê que ainda pisou em cima. Xinga o cocô, xinga o cachorro. A vizinha do lado lhe diz oi e ele a manda a tomar no cu. Entra no carro gira a chave e o carro está afogado. Ele lembra do filho do irmão emprestado da prima que veio ontem e estava brincando no carro enquanto ele mostrava para o tal que teoricamente queria comprar o carro. Xinga o garoto, xinga o irmão emprestado da prima e diz: - E ele nem vai comprar a merda do carro! O carro pega, ele abre o portão e sai de ré quase atropelando a outra vizinha passeando com seu cachorro. O fila sai do portão latindo e começa a brigar com o cachorro da vizinha. Ele sai do carro e enfia um chute no fila que entra correndo portão à dentro. Fecha o portão e vai para o trabalho. O trajeto de 20 minutos ele faz em 10, passando sinais vermelhos e quase atropelando meio mundo. Depois de passar uma sinaleira lembra que ali havia um pardal. Grita de raiva.
Chega no trabalho às 10hs e 25min e pergunta para a secretária a quantas anda a reunião. Ela vira-se para ele e diz.
- Você não leu o e-mail dizendo que a reunião foi transferida para as 16hs?

Nada com nada

      Estou muito cansado ultimamente. Cansado de ver a mediocridade das pessoas que não tem mais o que fazer a não ser cuidar da vida alheia, de quem perde o seu precioso tempo em função de algo que não está ao seu alcance e etc. Como seriam mais felizes essas pessoas se compreendes-sem as mensagens que a vida joga na cara delas. Uns dizem que é Deus, e outros que é, sei lá, consciência.
      Você põem o dedo na tomada, toma um choque. Vai novamente e confere, toma mais um choque. Deveria ser o suficiente para saber que deve mudar de atitude. Ok, mais uma vez só, não custa. Mais um choque e o dedo co-meça a ficar dormente. Mas obviamente persistir no erro é mais fácil do que olhar para o caminho adiante. E você fica parado no mesmo lugar, sempre.
      Quando procuramos alguém para conversar, para saber o que a pessoa acha de alguma coisa, esquecemos de fazer uma coisa importantíssima. Você sempre sabe o que é certo e o que é errado, então pergunte a si mesmo o que fazer antes de pedir a opinião de alguém. Eu devia ter feito isso muitas vezes. Teria evitado muitas experiências ruins e driblado várias situações. Como voltar no tempo não é uma coisa cientificamente possível ‘ainda’(sei lá, vai saber), tome decisões conforme a SUA cabeça. Nem sempre uma pessoa que está de fora, o conhece o suficiente para saber se você deveria ou não fazer alguma coisa.
      O grande problema de tudo isso, é que somos um ser incrivelmente estúpi-do. E se você que está lendo, não entendeu ‘bulhufas’. Ótimo, não era pra entender mesmo. Por isso não vou nem editar esse texto, pois é um pen-samento daqueles que, na realidade, nem você mesmo entende.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Se não começou bem, algo vai acontecer.

“Sabe aqueles dias que você acorda e tem uma vaga lembrança que teve um sonho ruim.Você não lembra do sonho em si, mas acorda com um mal estar, chateado ou com raiva, a ponto de saber que o tal do sonho bom não foi. Pois é, isso significa que seu dia não será normal e algo vai acontecer. Não sei se bom ou ruim, mas o dia não será normal”, escrevi como nota no celular antes de embarcar no ônibus. Dito e feito! Desci no centro, fui no banco... começou o terror. Nada de receber, fui comer um hambúrguer, para pagar no cartão pois estava sem um P$$$ centavo, estava muito ruim. Tirando que ela me entregou a bandeja e eu olhei para ela e pedi tranqüilamente:
-         Vê um catchup para mim por favor.
Ela meteu a mão embaixo do balcão e coloca UM sache.
Pensei comigo – quem consegue comer um hambúrguer com UM simples sache de catchup – beleza, olhei pra ela e disse brincando:
-         Um só. Ahh amor me consegue mais – e eu disse exatamente assim acreditem.
Ela mete novamente a mão embaixo do balcão e me entrega mais um. Olhei pra ela, ela me olhou com uma cara gorda de bunda suja. Exatamente isso, o rosto dela alem de gordo tinha a aparência de sujo. Me virei e fui sentar com uma expressão de desistência.
Cheguei no tribunal e liguei pro CIEE, e blá, blá, blá. Resumindo saí às 13:20hs, para usar meu horário de almoço para resolver, e voltei só as 15:30hs. A única coisa engraçada foi que participamos o meu colega e eu de uma 'superprodução' do banco, onde eu fui TENTAR sem sucesso sacar o dinheiro por ordem de pagamento, eles filmaram umas mulheres que entregam bombons para os clientes, nos entregando os bombons. Gravaram umas 3 vezes. Saí com 3 bombons no bolso, nada mais justo. Cachê por nossa célebre participação.
Enfim, no final das contas, fui até o CIEE, faltava um papel que a universidade não me entregou. Liguei pra Unisinos, xinguei todo mundo, acho que resolvi, pois não me deram o retorno que disseram que iam dar. Já eram 15horas, então aproveitei para mudar a p&¨%$ do dígito que estava errado do numero da conta que tive que mudar porque um banco comprou o outro e mudou mas não mudou o número, bom, mudou mas eu poderia continuar usando o antigo até sei eu quando (Entenderam? Pois é...), que fez com que eu não recebesse na minha conta o dinheiro e sim por ‘Ordem de Pagamento’. Diz o CIEE que receberei amanhã, sexta. Se não, provavelmente só segunda então imaginem a delícia de final de semana que vou ter se não receber.  
Com toda esta triste e complexa história quero alertá-los amigos: “Quando você acordar de um sonho ruim, e tiver a sensação de que algo não está bem. Prepare-se, pois este dia não será normal”.
Beijos e abraços e bom final de semana para quem está com dinheiro no bolso.

domingo, 3 de abril de 2011

Desabafo...

Para as pessoas que estão acompanhando Santa Fé me desculpo, pois me falta tempo para escrever. Os trabalhos e leituras da faculdade tem dificultado bastante o processo. E ainda para ajudar fiquei doente na ultima sexta-feira e aprendi algumas coisas. Descobri que preciso me cuidar mais, dar mais valor a boa saúde que sempre tive e que morro de medo de ir ao hospital. Não sou tão forte quanto pensei que fosse. Mas no final das contas, espero ficar melhor logo para retomar o tempo perdido da escrita e de todo o restante. Abraços a todos e boa semana.

segunda-feira, 28 de março de 2011

E-mail com idéia interessante.

Recebi este e-mail e achei muito interessante. Não sabe-se a procedência ou quem escreveu. Se as pessoas fossem mais unidas e conscientes acho que funcionaria.

GASOLINA (GNV, DIESEL e ÁLCOOL)

Como poderemos baixar os preços???
NÃO DEIXE DE LER ..
Você lembra do Criança Esperança?
A UNICEF e a Rede Globo ‘abriram as pernas’...
Foi a força da Internet contra uma FÁBRICA DE DINHEIRO que DESCOBRIU-SE nunca chegar a quem de direito.
Então continue a ler .Não deixe de participar, mesmo que vc HOJE não precise abastecer seu carro com gasolina!! Mesmo que você não tenha carro, saiba que em quase tudo que você consome, compra ou utiliza no seu dia-a-dia, tem o preço dos transportes, fretes e distribuição embutidos no custo e conseqüentemente repassados a você.


Você sabia que no Paraguai (que não tem nenhum poço de petróleo) a gasolina custa R$ 1,45 o litro e sem adição de álcool . Na Argentina, Chile e Uruguai que juntos (somados os 3) produzem menos de 1/5 da produção brasileira, o preço da gasolina gira em torno de R$ 1,70 o litro e sem adição de álcool

QUAL É A MÁGICA ??

Você sabia, que já desde o ano de 2007 e conforme anunciado aos "quatro ventos" O Brasil já é AUTO-SUFICIENTE em petróleo e possui a TERCEIRA maior reserva de petróleo do MUNDO.

Realmente, só tem uma explicação para pagarmos R$ 2,67 (cartel do DF) o litro: a GANÂNCIA do Governo com seus impostos e a busca desenfreada dos lucros exorbitantes da nossa querida e estimada estatal brasileira que refina o petróleo por ela mesma explorado nas "terras tupiniquins"

CHEGA !!!

Se trabalharmos juntos poderemos fazer alguma coisa.
Ou vamos esperar a gasolina chegar aos R$ 3,00 ou R$ 4,00 o litro? Mas, se você quiser que os preços da gasolina baixem, será preciso promover alguma ação lícita, inteligente, ousada e emergencial.
Unindo todos em favor de um BEM COMUM !!!

Existia uma campanha que foi iniciada em São Paulo e Belo Horizonte que nunca fez sentido e não tinha como dar certo. A campanha: "NÃO COMPRE GASOLINA" em um certo dia da semana previamente combinado não funcionou.

Nos USA e Canadá a mesma campanha havia sido implementada e sugerida pelo próprios governos de alguns estados aos seus consumidores, mas as Companhias de Petróleo se mataram de rir porque sabiam que os
consumidores não continuariam "prejudicando a si mesmos" ao se recusarem a comprar gasolina.. Além do que, se você não compra gasolina hoje... vai comprar MAIS amanhã. Era mais uma inconveniência ao próprio consumidor, que um problema para os vendedores.

MAS houve um economista brasileiro, muito criativo e com muita experiência em "relações de comércio e leis de mercado", que pensou nesta idéia relatada abaixo e propôs um plano que realmente funciona.

Nós precisamos de uma ação enérgica e agressiva para ensinar às produtoras de petróleo e derivados que são os COMPRADORES que, por serem milhões e maioria, controlam e ditam as regras do mercado, e não os VENDEDORES que são "meia-dúzia".
Com o preço da gasolina subindo mais a cada dia, nós, os consumidores, precisamos entrar rapidamente em ação!!
O único modo de chegarmos a ver o preço da gasolina diminuir é atingindo quem produz,na parte mais sensível do corpo humano: o BOLSO. Será não comprando a gasolina deles!!!

MAS COMO ??!!

Considerando que todos nós dependemos de nossos carros, e não podemos deixar de comprar gasolina, GNV, diesel ou álcool. Mas nós podemos promover um impacto tão forte a ponto dos preços dos combustíveis CAIREM, se todos juntos agirmos para

FORÇAR UMA GUERRA DE PREÇOS ENTRE ELES MESMOS.

É assim que o mercado age!!!

Isso é Lei de Mercado e Concorrência

Aqui está a idéia:

Para os próximo meses ( junho/ julho / agosto de 2011...) não compre gasolina da principal fornecedora brasileira de derivados de petróleo, que é a PETROBRÁS (Postos BR).

Se ela tiver totalmente paralisada a venda de sua gasolina, estará inclinada e obrigada, por via de única opção que terá, a reduzir os preços de seus próprios produtos, para recuperar o seu mercado.

Se ela fizer isso, as outras companhias (Shell, Esso, Ipiranga, Texaco, etc...) terão que seguir o mesmo rumo, para não sucumbirem economicamente e perderem suas fatias de mercado.
Isso é absolutamente certo e já vimos várias vezes isso acontecer!
CHAMA-SE LEI DA OFERTA E DA PROCURA

Mas, para haver um grande impacto, nós precisamos alcançar milhões de consumidores da Petrobrás.
É realmente simples de se fazer!!
Continue abastecendo e consumindo normalmente!! Basta escolher qualquer outro posto ao invés de um BR (Petrobrás). Porque a BR?
Por tratar-se da maior companhia distribuidora hoje no Brasil e consequentemente com maior poder sobre o mercado e os preços praticados.
Mas não vá recuar agora... Leia mais e veja como é simples alcançar milhões de pessoas!!


Essa mensagem foi enviada a aproximadamente trinta pessoas. Se cada um de nós enviarmos a mesma mensagem para, pelo menos, dez pessoas a mais

(30 x 10 = 300)

e se cada um desses 300 enviar para pelo menos mais dez pessoas, (300 x 10 = 3.000),

e assim por diante, até que a mensagem alcance os necessários MILHÕES de consumidores!

É UMA "PROGRESSÃO GEOMÉTRICA" QUE EVOLUI RAPIDAMENTE E QUE VOCE CERTAMENTE JÁ CONHECE !!

Quanto tempo levaria a campanha?

Se cada um de nós repassarmos este e-mail para mais 10 pessoas A estimativa matemática (se voce repassá-la ainda hoje) é que dentro de 08 a 15 dias, teremos atingido, todos os presumíveis 30 MILHÕES* de consumidores da Petrobrás (BR),
(fonte da ANP - Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)

Isto seria um impacto violento e de consequências invariavelmente conhecidas...
A BAIXA DOS PREÇOS

Agindo juntos, poderemos fazer a diferença.
Se isto fizer sentido para você, por favor, repasse esta mensagem, mesmo ficando inerte.


PARTICIPE DESTA CAMPANHA DE CIDADANIA ATÉ QUE ELES BAIXEM SEUS PREÇOS E OS MANTENHAM EM PATAMARES RAZOÁVEIS ! ISTO REALMENTE FUNCIONA.
VOCÊ SABE QUE ELES AMAM OS LUCROS SEM SE PREOCUPAREM COM MAIS NADA!

O BRASIL CONTA COM VOCÊ!!!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Acha que eu escrevo mal? To nem aí

Lendo o artigo Como escrever um bom artigo de Stephen Kanitz percebi como tem gente fazendo merda por aí. Ele com certeza detonou muitos jornalistas e escritores. Abaixo destaquei algumas pedradas:


"Alguns escritores e jornalistas escrevem pensando nos seus chefes, outros escrevem pensando num outro colunista que querem superar, alguns escrevem sem pensar em alguém especificamente."


"A maioria escreve pensando em todo mundo, querendo explicar tudo a todos ao mesmo tempo, algo na minha opinião meio impossível. Ter uma imagem do leitor ajuda a lembrar que não dá para escrever para todos no mesmo artigo. Você vai ter que escolher o seu público alvo de cada vez, e escrever quantos artigos forem necessários para convencer todos os grupos.

O mundo está emburrecendo porque a TV em massa e os grandes jornais não conseguem mais explicar quase nada, justamente porque escrevem para todo mundo ao mesmo tempo. E aí, nenhum das centenas de grupos que compõem a sociedade brasileira entende direito o que está acontecendo no país, ou o que está sendo proposto pelo articulista. Os poucos que entendem não saem plenamente ou suficientemente convencidos para mudar alguma coisa."



E essa foi a melhor de todas:


"Há muitos escritores que escrevem para afagar os seus próprios egos e mostrar para o público quão inteligentes são. Se você for jovem, você é presa fácil para este estilo, porque todo jovem quer se incluir na sociedade."


O artigo completo aqui.


Abraços a todos

segunda-feira, 14 de março de 2011

Santa Fé – Capítulo IV

Patrícia ainda de olhos fechados sentia um corpo quente abraçado ao dela. Estavam abraçados com as pernas entrelaçadas. Patrícia pensou que fazia um bom tempo que não dormia tão bem, e não acordava abraçada a um homem. Começou a acariciar levemente com as unhas aquelas largas costas descendo até a cintura e subindo pela barriga até o peito. Sentia o meio de suas pernas ficarem levemente úmidas. Que saudade de acordar assim, pensou. Com uma mão parada sobre o peito quente do homem, começou a descer a outra que estava embaixo de seu travesseiro pelo seu pescoço, correndo pelos peitos, barriga até o meio das pernas sobre a calça. Deu um leve suspiro e abriu os olhos. Quando percebeu que o corpo que estava acariciando era o de Gabriel, lembrou de toda a noite anterior e não conseguiu segurar o grito de susto, fazendo-o arregalar os olhos. Nisso, ambos gritaram e ela o empurrou da cama fazendo-o rolar e cair no chão.
- GABRIEL! DESCULPE! – disse ela colocando às mãos sobre a boca.
Gabriel ficou em pé ainda meio desnorteado.
- O QUE É ISSO? O que aconteceu? O que tu está fazendo aqui?
Patrícia correu os olhos para abaixo da cintura dele e ele olhou o volume que estava levantando a cueca. Era a circunstância dos carinhos dela com a unha. Gabriel prontamente olhou para baixo e cobriu o volume com as mãos.
- Enfim Patrícia – disse ele calmamente – pode-me dizer como chegamos a essa situação?
Ela contou tudo que havia acontecido e ele a ouviu com atenção, e com as mãos ainda entre as pernas disse:
- Bom. Eu me lembro só de alguns detalhes, sendo assim, vamos trabalhar que ganhamos mais.
- Você não prefere tirar o resto do dia de folga para se recuperar? – disse ela preocupada.
- Paty. Vou te dizer sinceramente. Se eu ficar em casa, pensando nessas merdas, há uma grande possibilidade de isso acontecer novamente. Então pode-me deixar ir trabalhar?
Ela olhou para ele com um olhar doce.
- Tudo bem. Vamos lá então, te dou uma carona.
Patrícia ficou sentada na cama tranquilamente olhando para os lados. E ele esperando que ela se retirasse do quarto para ele ficar a vontade.
- Bom se você não se importa, eu vou para o banho. – ele tirou a cueca, jogou no colo dela e passou por ela nu em direção ao banheiro.
Ela levantou da cama envergonhada e seguiu em direção a cozinha. Sentou-se a mesa e começou a refletir e rir sobre a cena que havia acontecido instantes atrás. Levantou para servir-se de café e olhou para o relógio. Eram dez e meia da manhã. Ouviu Gabriel gritar do chuveiro.
- Podia fazer o enorme favor de me servir um café né Paty?
Ele saiu do banho, arrumou-se e foi para a cozinha. O café estava servido a mesa e ela sentada com as pernas cruzadas com uma xícara nas mãos. Era uma cena que lhe trazia muitas lembranças. Por mais que fosse um ato simples, fazia muito tempo que ele não tinha uma companhia feminina à mesa na hora do café. Ele olhou para o relógio e virou-se para ela dizendo:
- Acho que estamos atrasados não é?
- Ninguém vai morrer por isso – disse ela em um tom seco.
- Não se importa de chegar junto comigo no jornal? Aquela mulherada pode fazer comentários maldosos.
- Se você está falando da Marina, ela pode até ficar com ciúmes. Não sei até que ponto vocês se relacionam. – disse ela de uma forma sarcástica.
- Ai amor, não se preocupa com isso. Não foi nada mais que uma noite. – disse ele sorrindo.
- Então você devia ter avisado ela, porque o bilhete deixado no seu teclado desmente isso.
- Hum. Mas isso é um ligeiro detalhe. Você sabe bem como é.
- Sim Biel, eu sei. Mas não esquece que lá não é a faculdade. Por mais que com o seu charminho você consiga comer todas e ainda fazê-las serem amigas, isso sempre acaba em rolo.
- Esta bem amor, então vamos trabalhar que ganhamos mais.
Eles levantaram-se e saíram.

Chegaram às onze horas da manhã ao jornal e todos os olhos seguiram seus passos. Principalmente os azuis de Marina. Era uma loira de um metro e 60 de altura, com um corpo mediano e definido. Ninguém que observava o atraente colega chegar as onze da manhã acompanhado da chefe, entendia o que estava acontecendo, e isso provavelmente gerou enormes especulações.
Perto das seis da tarde, Gabriel estava preparando-se para ir embora e chegou um boy com um envelope para ele. Ele o recebeu e prontamente soube o que poderia ser. Era um envelope todo trabalhado que devia ter sido muito caro. Ele sabia o que era. Abriu e confirmou o seu pensamento. Era o convite para o aniversário do pai no clube de campo de Santa Fé neste mesmo dia, às 20 horas. Clube que o pai freqüentava com seus amigos, aqueles que faziam de conta gostar dele pela influência financeira e política que ele tinha. Influência comprada. Gabriel sabia que havia recebido o convite somente por respeito. E sabia que quem tinha lhe enviado devia ter sido o irmão, pois o pai não fazia a mínima questão que ele fosse, e muito menos esperava que ele aparecesse. Esse era um bom motivo que faria Gabriel ir. A mágoa de Gabriel pelo pai era maior do que qualquer orgulho, e teria prazer de aproveitar a oportunidade de fazê-lo sentir incomodado perante os seus amigos. O ultimo aniversário do pai que ele havia comparecido fazia seis anos, e foi somente em respeito à mãe que já estava doente. Sentiu a pior sensação que um filho podia ter: o desprezo e a vergonha que o pai demonstrava ter dele e da esposa. Gabriel não gostava de usar terno, e para o pai, o fato de ele ter ido ao seu aniversário, na frente de seus amigos de tênis, jeans e uma camiseta, era inconcebível.
Olhou para o relógio, eram seis horas. Olhou para o convite, e com um sorriso maldoso, levantou e saiu.

Dirigindo seu Opala para o sul da cidade, pensou em fazer uma parada no beco que havia atrás do ItalyPub. Era um bom momento para comprar algo que lhe deixasse mais animado. Na entrada do beco haviam umas crianças brincando que pararam para que o carro dele passasse. Ao estacionar o carro um homem saiu de uma casa abandonada que havia ali há muitos anos. Era uma casa grande e depredada pelo tempo. Ficava entre dois edifícios residenciais grandes de classe baixa e há alguns anos vinha sendo usada pelos traficantes e usuários. Seu carro já era conhecido no local.  Gabriel desceu e foi em direção ao homem. Era um latino alto e forte, com uma expressão séria que sempre deixava Gabriel com um certo medo. O homem aproximou-se e disse:
- E aí mestre. O que manda hoje?
Gabriel deu uma olhadela rápida para os lados. O beco era escuro, as lâmpadas dos postes haviam sido quebradas pelos próprios traficantes e o homem havia parado encostado na mureta que cercava a frente do casarão.
- Me consegue duas loiras e 3 morenas, que à noite de hoje vai ser estressante – Entregou o dinheiro para o homem e pegou os pequenos pacotes - Posso dar um tapa aqui mesmo?
- Claro mestre, entra aqui, só pra sair da vista das crianças.
Eles entraram na casa e Gabriel usou uma mesa antiga que ficava encostada perto da porta. Pegou um cartão de crédito, abriu um dos pacotes sobre a carteira, e formou duas linhas. Lambeu o cartão, enrolou uma nota de 20 que puxou do bolso e cheirou uma linha com cada narina. Levantou a cabeça, deu umas fungadas e colocou a carteira no bolso. Piscou para o homem e saiu pela porta. Entrou no carro e seguiu novamente para o sul. Começou a chover e seus olhos piscavam rápido. Parou em um posto de gasolina e comprou uma garrafa de cerveja. Encostou-se no carro, observando a chuva e bebendo. Quando terminou a cerveja a chuva estava mais forte. Entrou novamente no carro e saiu.

Estava pronto para a guerra. A guerra fria e silenciosa que estaria por vir. Entrou no portão do clube, e estacionou o carro de ré quase em frente à porta de entrada do salão. O som do motor do Opala ofuscou o som que os músicos tiravam de seus instrumentos e todos olharam para a porta. Gabriel parou na porta, apagou o cigarro em um vaso de flores e entrou. Ele estava vestido com a mesma roupa que fora trabalhar, jeans, tênis e camiseta. No caminho até chegar até o pai, parou um garçom e pegou um copo de uísque. O pai o olhava com desaprovação. Tinha 65 anos demonstrados em seus cabelos grisalhos, a gordura que a academia não conseguia conter e a altura típica da família. Gabriel olhava-o fixamente com sarcasmo e o pai lhe retribuía o olhar com desprezo. Chegou abraçando o velho e falando em seu ouvido:
- Parabéns papai – o cinismo em suas palavras era absurdo.
- Podia pelo menos ter colocado um terno. Você não aprende mesmo, adora fazer-me passar vergonha – disse com voz grave e baixa próximo do ouvido do filho.
- Nossa. Você sempre consegue me surpreender. Como consegue ser tão otário?
O pai afastou o filho de seus braços e sorrindo deu dois tapinhas de leve no rosto, sabendo que Gabriel detestava essa atitude. Todos os próximos à família sabiam que era encenação aquele momento. Mas os amigos políticos e alguns outros convidados não conheciam nada sobre os problemas que os dois tinham. Gabriel olhou para os lados e viu alguns amigos seus de colégio, filhos de amigos do pai. Cumprimentou os velhos amigos que não falava havia tempo, todos de terno, olhou em volta todos bem arrumados e sentiu-se feliz.
Gabriel estranhou o respeito que os amigos e os pais dos amigos, prestaram a ele pelos artigos políticos que escrevera quando trabalhou na capital. Gabriel era uma pessoa simpática. Conquistava as pessoas com facilidade, conseguia circular tanto pelos mundos mais baixos como o de um traficante, como o mundo da alta classe dos seus antigos colegas. Logo, havia umas vinte pessoas em torno dele sentados ouvindo-o contar histórias de suas entrevistas com celebridades. Era o tipo de pessoa que não dominava todos os assuntos, mas era atencioso aos assuntos, o que o fazia argumentar. Passado um tempo, até o prefeito já estava sentado ao redor dele, rindo e brincando como se fossem velhos amigos. O pai deixou de ser o centro das atenções e Junior sentiu-se incomodado por Gabriel estragar o momento do pai.
Essa era à base da guerra fria que havia desde sempre entre os dois. Os conflitos começaram com a atenção da mãe. A mãe parecia ser mais atenciosa aos filhos, em especial ao mais velho, do que com o marido. E isso o pai deles não podia conceber. O irmão sentia que a mãe gostava mais de Gabriel, mas na realidade ela tentava dar-lhe o carinho que o pai não dava, por ele não ser submisso as suas vontades como o caçula. E assim criou-se essa situação complexa que rondava a relação deles.
Junior encheu-se do que acontecia e intrometeu-se na conversa de Gabriel:
- Biel, vamos ali na outra sala que precisamos conversar – disse de uma forma que não parecesse hostil.
- Claro Maninho, vamos sim. Os senhores me dêem licença – virou-se para o prefeito – E prefeito, um enorme prazer conhecê-lo. – disse apertando-lhe a mão enquanto eram fotografados.
Gabriel falou virando um copo de uísque, o décimo da noite:
- Obrigado pela atenção de todos e até uma próxima oportunidade, que agora vou ser posto para fora da festa de meu pai. E o pior de tudo, pelo próprio irmão.
Todos fizeram silêncio e o irmão levou-o pelo braço sorrindo aos convidados. Junior o levou até uma sala reservada e disse:
- Como sempre você tem que deixar o pai chateado. Não notou que as pessoas só estavam ali porque você estava bêbado?
- Acho meio estranho que trinta pessoas se reúnam para conversar com um bêbado. – disse ele sarcasticamente.
- Porra é o aniversário dele. Você sempre tem que ser o centro das atenções?
Gabriel não disse nada e olhou para o irmão com uma cara de cansado. Acendeu um cigarro e ficou ali sentado em um luxuoso sofá. Olhou para o irmão em pé na sua frente e disse:
- Sabe o que me dá raiva? Vocês me tratam como se eu fosse um imbecil. Um coitado que sempre faz tudo errado. Então, querem-me encher o saco quando eu consigo fazer o que vocês nunca conseguiram, nenhum dos dois, que é conquistar as pessoas. Sem precisar de dinheiro, influência ou de status. Pelo simples fato de ser eu mesmo. Que pena de vocês, é isso que eu tenho.
Quando terminou a frase ouviu a voz grossa no pai entrando na sala, como se estivesse ouvindo os dois pela porta entreaberta.
- Pena que você pense isso de mim Gabriel – disse o pai parado na porta olhando para o filho com um olhar triste, coisa que ele nunca tinha visto.
Gabriel ficou meio espantado com o triste olhar do pai e sentiu que alguma coisa soava diferente em suas palavras, parecia haver algum sentimento ali. Tomou em um gole só o restante do uisque no copo e disse:
- Bom. Passou da hora de eu ir embora. Essa festa já deu tudo que tinha que dar – disse caminhando em direção a porta.
Atravessou o salão despedindo-se das pessoas que lhe deram atenção e abanou para os desconhecidos. Saiu pela porta, entrou em seu Opala preto e foi embora.
Estacionou o carro em frente ao edifício onde morava, olhou para o topo do prédio e saiu caminhando pela rua. Não queria ir para casa. Estava cansado, mas com a cabeça cheia. Tinha presenciado aquela expressão do pai que nunca em toda a sua vida havia visto. Começou a chover levemente. Ele caminhou umas duas quadras e voltou para o apartamento sem resposta alguma. Subiu, serviu-se de vodca com limão e gelo, acendeu um Marlboro e sentou-se numa cadeira de praia na sacada para ver a chuva cair sobre aquela escura noite de Santa Fé.

Gabriel estava trabalhando tranqüilamente umas duas semanas desde que tinha conhecido o prefeito de Santa Fé. Patrícia aproximou-se da mesa dele e de Felipe e pediu que se aproximassem.
- Garotos, temos um enorme problema.
Ambos olhara pra ela pensando o que poderia ser. Felipe mais preocupado e interessado e Gabriel sem o mínimo interesse.
- Fala meu anjo, qual é o enorme problema? – disse Gabriel sarcástico.
- Gabriel é sério. Temos uma bomba nas mãos. Temos uma reportagem com informações que ninguém mais tem. Mas quem a escreveu esta com medo de sofrer represálias.
- Está bem, mas quem escreveu? E que informações bombásticas são essas? – disse Felipe sério.
- Não podia dizer, mas vou confiar em vocês. Foi a Marina. Ela estava trabalhando nisso a meses atrás. Começou como uma reportagem sobre uma obra superfaturada em uma escola e a coisa tomou uma proporção enorme. Ela descobriu desvios exorbitantes, de milhões de reais, para a conta dos filhos do prefeito e vice. E nesse rolo todo, ela descobriu um processo que corre na justiça em segredo, de que o prefeito seria acusado pelo assassinato de uma garota de programa. E existem provas de tudo, isso é o pior. Não vamos publicar nada sobre o processo de assassinato, mas devemos publicar sobre os desvios de verba. E ela está com medo, pois já andou recebendo algumas ligações estranhas. E... – Gabriel não deixou ela terminar a frase e disse.
- Pode colocar o meu nome. Eu peito essa. Conheço o prefeito e ele contra mim não poderá fazer nada. Daria muito na cara. Pode deixar pra mim.
- Sem problemas mesmo? – ele acenou prontamente com a cabeça e ela prosseguiu - então está bem, vou colocar o seu nome. Mas você sabe que isso vai dar um bafafá desastroso não é?
- Linda, nada pode ser pior do que aquele artigo que eu chamei os políticos da Capital de porcos – disse Gabriel com uma gargalhada.
- Certo então, vou cuidar para que seja publicado amanhã – disse Patrícia levantando e caminhando em direção a sua mesa.
Ela passou pela mesa de Marina e fez-lhe um sinal de positivo. Marina prontamente olhou para Gabriel e com um sorriso doce acenou com a cabeça.
Gabriel havia ficado até mais tarde editando o texto de Marina para ficar mais a sua cara. Próximo das oito da noite o telefone tocou. Era seu irmão.
- Gabriel? – disse Junior com uma voz meio sufocada.
- Sim Junior, o que quer?
- Preciso te contar uma coisa. Vou ser bem direto. O pai estava no escritório e sofreu uma parada cardíaca. E como até sua secretaria já havia ido embora, o socorro demorou a chegar e ele faleceu – Junior fez uma pausa afastando o fone para não demonstrar seu sofrimento ao irmão.
- Mas como assim Junior, o velho era um touro de tão forte – disse Gabriel com uma voz calma e debilitada.
- Estou no hospital. O médico disse que ele a mais ou menos um ano estava com sérios problemas de coração, e ele fez questão que ninguém soubesse, você sabe bem como é.
- Sim ele queria esconder as coisas como você esta escondendo as lágrimas que estão escorrendo.
O irmão não conseguiu conter o pranto e desabou a chorar ao telefone. Gabriel lembrou de quando o irmão o ligou para contar que sua mãe estava doente. Junior chorando compulsivamente disse ao irmão em forma de suplico:
- Por favor Gabriel, venha pra cá, eu não consigo fazer isso sozinho. Estou no hospital Santa Luzia.
- Chego aí em dez minutos, me espere na portaria – e desligou.

Enquanto dirigia até o Hospital, Gabriel tentava engolir a história do falecimento do pai. Afinal, por mais que não gostasse dele, ele era seu pai e esse laço não é fácil de ser cortado. Pensava que de uma certa forma, o pai parecia-lhe um ser com um poder tremendo, então como podia ter morrido, ele era quase imortal. Sentia um buraco dentro de si um buraco frio. Sentia que havia perdido a metade que mantinha equilíbrio ao seu mundo. A guerra entre os dois era a única coisa que os aproximava, e como ficaria agora. Tudo tinha acabado, mas não havia um vencedor, apenas um lado havia se retirado, causando dor ao outro. Por mais que as lágrimas não corressem, isso pela frieza que ele havia adquirido após a morte da esposa, ele se sentia mal, e não podia negar que estava triste.
Chegou ao hospital e o irmão abraçou-o chorando. O irmão não tinha condições de fazer nada. Estava totalmente fora de si. Gabriel teve de tomar as rédias da situação. Assinou todos os papéis do hospital, ligou para a funerária, arranjou tudo. Sua frieza natural ajudou no processo. Mantinha-se calmo e calculista. Acertou tudo durante a madrugada e pela manhã estava tudo acertado. Havia ligado para o jornal solicitado que publicassem uma nota sobre o falecimento e para Patrícia avisando-a sobre o acontecido. Eram dez horas da manhã, o velório estava cheio e Gabriel ainda estava em pé, firme.
Por ter passado o dia todo em função do velório e do enterro, não teve notícias da proporção que tomou a publicação da matéria. Todos os jornais do estado e os mais importantes do país estavam comentando sobre o desvio de verba do prefeito de Santa Fé. O prefeito não havia se pronunciado sobre o acontecido, somente declarado por escrito nada ter a falar sobre o assunto. Gabriel quando chegou em casa depois do enterro, já passava da meia noite. Olhou seu telefone e haviam mais de cem chamadas não atendidas. Deixou o telefone do lado da cama e dormiu.
Gabriel acordou ouvindo o despertador de Felipe, estava com o estômago vazio, lembrou que não havia comido nada na noite anterior. Levantou-se, foi ao banheiro e seguiu para a cozinha. Foi até a geladeira e Felipe disse:
- E aí como você está?
- Simplesmente estou. Cansado, com fome e meio abatido.
Não disseram mais nada até a campainha tocar. Felipe foi atender e era o irmão de Gabriel. Disse que ele entrasse e o levou até a cozinha onde Gabriel terminava seu café. Junior entrou e disse:
- Bom dia Gabriel. Desculpe incomodar. Sei que você deve estar cansado, mas temos coisas importantes para resolver, e sei que você deve estar querendo se livrar de tudo isso.
Gabriel percebeu uma sinceridade incomum no irmão.
- Tudo bem Junior. Qual o problema? – disse ele de forma tranqüila.
- Bom. Você sabe que todos os bens do velho serão divididos entre nós dois. E isso inclui as ações da empresa, a casa, os carros e os outros imóveis. E... – Gabriel se intrometeu.
 - Junior, vamos resolver isso facilmente. As ações são o principal objeto que devemos conversar. São um bom investimento e eu não vou vendê-las, mas deixo-as em suas mãos para que você administre e para manter você na presidência. – Junior acenou com a cabeça em forma de agradecimento – O restante, podemos vender e dividir o dinheiro. Simples assim.
- Era o que eu pensava também. Então estamos acertados. Precisamos ir ao advogado para assinar os papéis e acertar a burocracia toda.
- Por mim podemos ir agora mesmo – disse Gabriel.
- Bom vamos então, aí já resolvemos isso.
Alem da cortesia deles, ainda havia aquele ressentimento e rancor. Cada um tinha seus motivos e ambos não esqueciam. Isso que mantinha a frieza entre os dois.

Foram em carros separados até o advogado do pai. O escritório era no maior e mais luxuoso edifício de Santa Fé. Eles foram tratados como reis. Aguardaram alguns minutos na recepção da sala em luxuosos sofás e logo foram chamados. A porta abriu-se e o próprio advogado veio recebê-los.  Era um homem alto e magro, com cabelos grisalhos e uma envelhecida pele clara. Claramente era bem sucedido devido a classe e ao terno que usava. Foi na direção deles dizendo:
- Meninos – deu um abraço em cada um – é um prazer vê-los. Sou Francisco Montana. Meus pêsames novamente. – ele havia ido ao velório – Sou advogado da família de vocês desde antes de vocês nascerem. Vamos comigo entre e sentem-se enquanto solicito um café com biscoitos.
Enquanto eles entravam no enorme escritório eles ouviram Montana dizer à secretária que trouxesse café com biscoitos e que não queria ser incomodado pelas próximas duas horas pelo menos. Ele fechou as duas portas grandes de seu escritório e sentou-se na enorme cadeira a frente deles.
- Garotos, o seu pai fez o testamento dele pouco depois que a mãe de vocês faleceu. O testamento ele solicitou que eu fizesse padrão. Todos os bens foram divididos aos dois. Mas ele deixou umas coisas que queria que eu lhes mostrasse somente após a sua morte. Uma delas são estas caixas com seus nomes, e a outra foi uma carta escrita por ele de próprio punho que ele queria que eu lesse para vocês neste momento.
Ambos olhavam para Montana com muita atenção e pensavam no quê poderia ter dentro das caixas. O advogado começou a recitar a carta em voz alta:
“Aos meus amados filhos Gabriel e Junior:
Passei a vida toda trabalhando para dar-lhes sempre o melhor possível, espelhando-me sempre em tudo que não pude ter. E hoje percebo o quanto fui infeliz nisso. O tempo passou tão rápido que não os vi crescer. Trabalhava tanto que perdi as oportunidades de compartilhar com vocês suas vitórias, suas conquistas e até suas derrotas. Sei que fui ausente. E isso criou essa rivalidade entre vocês e quando percebi o meu erro, já era tarde. Sempre achei que vocês deveriam seguir os meus passos e achava inconcebível que não quisessem. Ai foi o meu infortúnio. Meu filho mais velho acabou me odiando e abandonando e o mais novo tornou-se o espelho dos meus defeitos. E o culpado de tudo isso fui eu, e só descobri isso depois de velho. Nunca disse o quanto me orgulhava de saber das suas conquistas, nunca demonstrei o quanto os amava, nunca nem participei de nenhum momento importante da vida de vocês. Enfim, nunca disse isso, pois tudo já estava feito. Eu havia criado esta guerra entre nós e não havia mais o que fazer. Tinha vergonha de ir pedir desculpas aos dois, e não queria ouvir Gabriel dizer tudo que ele tem a dizer sobre mim. Eu morreria ali mesmo. Concluindo, quero dizer-lhes que tentem se entender com seus defeitos, afinal são irmãos e devem compartilhar desse laço que os une. Sinto muito orgulho pelos dois. Pelo espetacular administrador que Junior se tornou, e pelo incrível Jornalista que Gabriel veio a ser. Amo vocês e me perdoem por tudo.
Maximiliano Ruschel.”

Neste momento Junior não conseguia conter as lágrimas que escorriam e pingavam no paletó acinzentado. Gabriel seguia com a frieza herdada pelo pai, olhava para o irmão e para o advogado com um olhar sério e respeitoso, impassível. Montana continuou:
- Garotos é isso. Querem alguma informação? Fora isso cada um pode pegar a sua caixa.
Gabriel sem dizer nenhuma palavra, como rosto completamente sério, agarrou a caixa com as duas mãos, acenou com a cabeça para o advogado e saiu. Junior ficou sentado com um lenço no rosto. Gabriel desceu de elevador saiu do prédio e entrou em seu carro. Colocou a caixa no banco do carona, mas não resistiu e colocou-a de volta em seu colo e abriu. Era uma caixa de madeira do tamanho de uma caixa de sapatos com uma etiqueta com o nome de Gabriel em cima. Quando abriu a caixa ficou chocado. Estava cheia de fotos das formaturas do colégio e da faculdade, do casamento de quando ele era bebê e fotos da família. Abaixo das fotos estavam recortes de jornal. Eram todas as matérias, reportagens e artigos escritos por Gabriel. Gabriel fechou a caixa, colocou a mão sobre a boca e ficou alguns minutos olhando para o nada e pensando. Colocou a caixa de volta no banco do carona e saiu com o carro dali. Seguiu para o sul em direção do cemitério.
Gabriel estacionou o carro e pegou uma garrafa de uísque no porta luvas. Acendeu um cigarro e foi até o túmulo do pai. Ficou alguns minutos em pé em frente do túmulo. Seu telefone tocou, era Patrícia:
- Sim minha chefe amada.
- Oi Biel onde está? Está uma confusão aqui. O prefeito se pronunciou sobre o caso e declarou guerra ao, segundo ele disse, “jornalismo sensacionalista oportunista deste Gabriel Ruschel”. Você tem que dar uma resposta a ele ou marcar uma entrevista para ver o que acontece.
- Agora a coisa vai ficar boa, chego aí em meia hora. – e desligou.
            Gabriel tomou um gole da garrafa, derramou um pouco sobre o túmulo e deu uma forte tragada no cigarro. Falou para o nada:
            - É meu pai, a coisa vai ficar feia – deu uma olhada para o túmulo da mãe ao lado – e o pior é que nunca bebemos alguma coisa juntos. Tenho a sensação de que nos veremos em breve.
            Ele tomou mais um gole e saiu andando em direção ao túmulo de sua falecida esposa. Ele parou, beijou mão e encostou-a no nome escrito na lápide e foi embora.
Chegou ao jornal e foi almoçar, pois já havia passado do meio-dia. No momento que retornou seu telefone tocou. Atendeu e antes de falar uma voz conhecida lhe disse:
- Jornalista Gabriel Ruschel? Aqui é o prefeito Antonio Martins.
- Olá prefeito que prazer falar com o senhor – falou em tom irônico.
- Por favor Ruschel, não vamos ser hipócritas. Só quero lhe dizer que você devia ter ficado na capital. Com aquela matéria você entrou em um briga que não poderá ganhar e eu vou fazer tudo ao meu alcance para destruir essa sua carreira infeliz. Manteremos contato. – Gabriel ouviu telefone desligar do outro lado, baixou o seu no gancho sentou-se na cadeira e disse:
- É Gabriel, a merda vai ser grande. 

quinta-feira, 10 de março de 2011

Para os amigos: Prévia do Capítulo IV

Queria agradecer aos amigos que estão acompanhando a história. Sendo assim, deixo um presente a vocês. Este é o inicio do Capítulo IV e espero conseguir terminar no próximo final de semana.

Patrícia ainda de olhos fechados sentia um corpo quente abraçado nela. Estavam abraçados com as pernas entrelaçadas. Patrícia pensou que fazia um bom tempo que não dormia tão bem, e não acordava abraçada a um homem. Começou a acariciar levemente com as unhas aquelas largas costas descendo até a cintura e subindo pela barriga até o peito. Sentia o meio de suas pernas ficarem levemente úmidas. Que saudade de acordar assim, pensou. Com uma mão parada sobre o peito quente do homem, começou a descer a outra que estava embaixo de seu travesseiro pelo seu pescoço, correndo pelos peitos, barriga até o meio das pernas sobre a calça. Deu um leve suspiro e abriu os olhos. Quando percebeu que o corpo que estava acariciando era o de Gabriel, lembrou de toda a noite anterior e não conseguiu segurar o grito de susto, fazendo-o arregalar os olhos. Nisso, ambos gritaram e ela o empurrou da cama fazendo-o rolar e cair no chão.
- GABRIEL! DESCULPE! – disse ela colocando às mãos sobre a boca.
Gabriel ficou em pé ainda meio desnorteado.
- O QUE É ISSO? O que aconteceu? O que tu está fazendo aqui?
Patrícia correu os olhos para abaixo da cintura dele e ele olhou o volume que estava levantado sobre a cueca. Era a circunstância dos carinhos dela com a unha. Gabriel prontamente olhou para baixo e cobriu o volume com as mãos.
- Enfim Patrícia – disse ele calmamente – pode-me dizer como chegamos a essa situação?
Ela contou tudo que havia acontecido e ele a ouviu com atenção, e com as mãos ainda entre as pernas disse:
- Bom. Eu me lembro só de alguns detalhes, sendo assim, vamos trabalhar que ganhamos mais.
- Você não prefere tirar o resto do dia de folga para se recuperar? – disse ela preocupada.
- Paty. Vou te dizer sinceramente. Se eu ficar em casa, pensando nessas merdas, há uma grande possibilidade de isso acontecer novamente. Então pode-me deixar ir trabalhar?
Ela olhou para ele com um olhar doce.
- Tudo bem. Vamos lá então, te dou uma carona.
Patrícia ficou sentada na cama tranquilamente olhando para os lados.
- Bom se você não se importa, eu vou para o banho. – ele tirou a cueca, jogou no colo dela e passou por ela nu em direção ao banheiro.
Ela levantou da cama envergonhada e seguiu em direção a cozinha.

Abraços a todos

Santa Fé – Capítulo III

Com o som de um caminhão buzinando na rua, Felipe desperta. Sentiu fios de cabelo na sua orelha. Com uma rápida olhada viu os cabelos encaracolados castanho escuros da mulher deitada ao seu lado. Olhou para o teto e começou a refletir sobre o que teria acontecido na noite anterior. Nunca havia bebido tanto a ponto de perder a consciência desta forma. Olhou o relógio ao lado e viu que eram três horas da tarde. Lembrou que era sábado. Observando fixamente o ventilador de teto, começou a relembrar a noite anterior.
Ele e Gabriel estavam se arrumando para sair. Seria a primeira vez que sairiam juntos desde que Gabriel tinha se mudado, e isso fazia duas semanas. Felipe já estava pronto aguardando na sala e Gabriel estava vestindo as calças quando tocaram a porta. Era Marcelo e uma garrafa de vodca. Marcelo tinha 34 anos, um metro e setenta, um porte médio com uma pancinha típica dos bohemios. Tinha curtos cabelos escuros penteados para trás e olhos castanhos, um rosto arredondado e um cavanhaque com pelos negros. Vestido com um paletó preto e uma camisa bordô era um próprio carcamano. Como era de se esperar, chegou já meio bêbado e gritando.
- ESTÃO PRONTAS BONECAS? – gritou - Hoje a noite é por minha conta. Vamos beber e fuder até não poder mais.
Felipe repensou a idéia de ir. Mas agora sabia que não podia voltar atrás.
- Fala Marcelino, tudo tranqüilo? Onde vai ser a noite hoje? – disse Gabriel saindo do quarto indo para a cozinha.
- Bom meus queridos, este humilde servo do mal levará vocês ao RedClub. Muitas vadias nuas, muita bebida e pouca gente. Hoje a festa é vip. Somente convidados da casa. E eu como sempre tenho passe livre. Sou amigo da dona. Dei vários banhos com a língua naquela safada gostosa.
Gabriel riu e abriu uma cerveja. Estava vestindo uma jaqueta cinza de couro, camiseta preta e jeans azul. Seu clássico cabelo desarrumado como sempre e a barba por fazer. Encostou-se na porta da cozinha e apontou com a cabeça sorrindo para que Marcelo olhasse para Felipe.
- Garoto – perguntou Marcelo sorrindo – que porra de roupa é essa?
Felipe vestia com uma calça sarja preta, uma camisa pólo branca abotoada até em cima e um blusão que ele parecia ter roubado de seu avô, fechado com dois botões na altura do umbigo formando uma gola “V” até metade do tórax. Marcelo aproximou-se, tomou um gole da vodca e largou a garrafa sobre a mesa. Quando chegou desabotoou o blusão, tirou e o jogou no sofá. Enquanto desabotoava a pólo, Gabriel desarrumava seu cabelo. Marcelo, concluiu com o gesto de um artista terminando sua obra.
- Ainda parece um filhinho de papai que veio do interior. Mas está mil vezes melhor que antes.
- Então vamos embora que eu quero beber – disse Gabriel pegando a garrafa de vodca e caminhando em direção da porta.

A boate RedClub era um prédio de 3 andares, sem janelas nos dois primeiros e algumas sacadas no terceiro. A fachada era pintada de preto e tinha uma pequena porta estofada com uma grande maçaneta prateada. Acima da porta, havia uma placa com as letras vazadas, iluminadas por uma luz vermelha vinda de trás com o nome do lugar. A boate era no caminho para a zona rural da cidade. Diziam as más línguas, que a dona do lugar era quem comandava o tráfico de drogas na região, e que o lugar era afastado para que fossem praticadas atividades ilícitas em todo o terreno em volta da boate, que era usado como estacionamento. Seu nome mesmo ninguém sabia, mas todos a chamavam de Sara. Quando estavam parando na frente do lugar, Sara estava saindo na porta e foi ao encontro de Marcelo quando desceram do carro. Marcelo jogou a chave na mão de um dos brutamontes que se aproximavam para que ele estaciona-se o seu carro. Felipe ficou impressionado com a beleza e classe daquela mulher. Devia ter seus 45 anos, pois assim como o nome a verdadeira idade era desconhecida, tinha longos cabelos pretos até a cintura, olhos azuis, e uma pele extremamente clara. Seu corpo era perfeito de uma forma inimaginável. Enormes seios, uma cintura muito fina e uma enorme bunda que seguia uma linha formando o par de pernas mais perfeitos que ele já tinha visto. Um curto, mas respeitoso, vestido vermelho colado a aquele corpo espetacular e um salto com tiras até metade das canelas. Ela aproximou-se e abraçou Marcelo de uma forma repleta de respeito de ambas as partes. A voz dela soava como a mais bela música clássica e sexy devido ao seu sotaque italiano.
            - Marcelo, meu amado. Por onde andava meu – falou em italiano - consigliere e amico intimo?
            Felipe estranhou ver o até então bebum Marcelo agir praticamente como um lord.
- Olá coração – falou ele em um tom tranquilo – perdão por minha ausência nos ultimos tempos, mas sabe que os negócios estão tomando muito do meu tempo. Mais do que eu gostaria.
Ela o olhava sorrindo com um rosto angelical. Virou para Gabriel que a olhava fixamente nos olhos com um certo ar maligno.
- Você é o tão falado Gabriel Ruschel. Marcelo sempre me falou muito bem de você. E isso que me fez ler seus artigos e atiçar uma certa curiosidade.
- Muito prazer linda. Mas me interessei por saber que tipo de curiosidade lhe atiçou?
- Conversamos sobre isso mais tarde – respondeu ela com um sorriso espetacularmente lindo – vamos entrar todos e tomar alguma coisa.
Como Felipe estava praticamente escondido atras de Gabriel, ela nem o viu. Ela saiu andando na frente de uma forma que poderiam ser empilhadas taças na sua cabeça que elas não cairiam.
 Haviam poucas pessoas na boate. Era literalmente uma festa só para amigos. Sentaram-se em uma mesa coberta por uma toalha de seda em poltronas estofadas. Quando Sara sentou o garçom prontamente veio perguntar quais seriam os pedidos.
- Para o meu amico Marcelo aquele vinho de minha adega pessoal. Para o senhor Gabriel, aquela garrafa que trouxe da Rússia na semana passada, e para o... – fez uma pausa – perdoe-me jovem repórter por não ter me apresentado.
Felipe acenou com a cabeça sorrindo demonstrando que não havia problema algum e ela continuou:
- O jovem – fez uma cara pensativa – acredito que goste de vinho? – ele acenou novamente – Traga três taças.
O garçom acenou com a cabeça e se retirou.
Começaram os shows das strippers e Felipe ficou enlouquecido. Nunca vira tantas lindas mulheres reunidas em um só lugar. As garçonetes que passavam fitavam-no, pois ele era um rapaz atraente, mesmo com seu perfil de certinho. Ao termino do show, Marcelo olhou para duas garotas e as chamou com um gesto. Elas aproximaram-se e sentaram ao seu lado. Gabriel e Sara estavam conversando sobre a Europa e se olhavam e riam de forma convidativa. E Felipe estava sentado sozinho interagindo com a garrafa de vinho e observando os passos de uma linda morena de cabelos crespos que também o olhava.

Conforme ia pensando, só conseguia lembrar de uns flashes, ele terminando com a garrafa de vinho, a morena sentando em seu lado, ele contando piadas na mesa agradando aos presentes e lembrava do momento que Gabriel sumiu com Sara. Fazia um enorme esforço para lembrar mais, mas sua memória não ajudava. Sua cabeça doía, seu corpo também. Em seu primeiro movimento na cama sentiu uma coisa em seu pênis. A camisinha ainda estava ali. Ainda bem que eu usei camisinha pelo menos, pensou. Quando tirou sentiu uma certa dor, suave, mas incômoda. Lembrou que a última vez que sentiu algo semelhante foi com a primeira namorada da faculdade na primeira vez que passou a noite em um motel. Levantou da cama e a mulher deitada era sim a morena de cabelos crespos. Estava deitada de bruços com o lençol lhe tapando só a bunda.
Foi ao banheiro e ao passar na porta do quarto de Gabriel, viu que ele estava deitado, tapado até a cintura. No seu ombro esquerdo estava uma morena e do esquerdo uma loira. Olhou mais especificamente para a loira e era uma das repórteres do jornal. Esqueceu o banheiro e foi até a cozinha. Sua garganta estava seca, tinha sede. Ao chegar à sala foi o espanto. Colocou a mão na boca para não rir, pois a cena além de chocante também era engraçada. Estava Marcelo deitado no carpete da sala e a garota deitada sobre ele. A cena descrevia perfeitamente duas pessoas que dormiram enquanto faziam um “69”. Ela com as pernas abertas, a cabeça dele no meio e ele abraçado nas coxas da mulher como se fosse um travesseiro. E a mulher deitada com a cabeça na coxa esquerda dele. O fator engraçado além da cena em si, era Marcelo abraçado nas coxas da mulher com a vagina dela há alguns centímetros do seu queixo e ele de boca aberta roncando. Felipe em meio a esta situação foi à geladeira, pegou uma garrafa de água e sorrindo voltou para a cama. Logo pegou no sono novamente.

Gabriel pegou duas panelas e foi para o quarto de Felipe. Eram seis da tarde, e Felipe estava em um sono profundo. Gabriel entrou no quarto batendo as panelas, só de cueca e gritando:
- EU BEBO SIIIIIIMM. ESTOU VIVEEEEENDOOO...
Felipe em um único salto parou em pé na cama gritando:
- QUE FOI! QUE FOI!
Gabriel parou de bater as panelas e seguiu com o tom de voz normal.
- Vamos arrumar a casa Bela Adormecida.
Nisso entra Marcelo no quarto pelado e com uma mão na testa e a outra coçando o saco.
- Puta que me pariu, cacete. Que porra é essa. Eu acabei de ir dormir – disse Marcelo resmungando e deitando na cama de Felipe que desceu da cama correndo.
Gabriel olhou para os dois e disse:
- Vamos nessa cambada. Eu já despachei as vadias. Agora temos que arrumar toda essa merda.
Marcelo levantou-se, ainda nu, e foi na direção da sala dizendo:
- Arrumar a casa é o caralho. Me deem um minuto e eu resolvo isso.
Pegou o telefone, discou o numero da boate e o colocou no ouvido:
- Alô! Sim é óbvio que é eu. Manda essas piranhas pra cá que eu tenho trabalho pra elas. Que parte do “AGORA” - gritou – você não entendeu. Você tem cinco minutos – jogou o aparelho no sofá e juntou sua cueca do chão.
- E aí garotas qual a banda de hoje? Eu to pronto para o crime – disse Marcelo.
- Eu fora dessa pessoal, tenho que trabalhar amanhã – disse Felipe com uma voz sonolenta voltando para o quarto.
Passaram cinco minutos e tocaram a campainha. Marcelo abriu a porta e mandou entrar. Cinco garotas, não muito bonitas entraram com baldes e esfregões. As garotas começaram a limpeza e meia hora depois estava tudo arrumado e limpo. Enquanto elas arrumaram a casa eles tomavam banho e ajeitavam pequenas coisas. Marcelo aproveitou a deixa e foi embora com as garotas. Gabriel foi ao quarto de Felipe que estava lendo e falou:
- O que você acha de irmos ao mercado comprar umas coisas. Prometo não comprar somente bebida desta vez – falou com um sorriso irônico.
- Por mim tudo bem. Estamos com a dispensa vazia mesmo – disse Felipe.
Pegaram o carro e foram a o hipermercado que havia no centro da cidade. Felipe notou uma tranqüilidade fora do normal em Gabriel. Estava com uma aparência tranqüila e satisfeita, coisa que poderia ter sido causada pela noite agitada que teve. Até o modo de dirigir estava diferente. Estacionaram o carro em frente ao mercado e Gabriel apontou para que Felipe pegasse um carrinho de compras. Entraram. Gabriel caminhou em direção às bebidas, e foi direto ao setor de sucos, pegou uma caixa e analisou. Felipe achou estranho. Pensou que poderia estar conhecendo o lado mais humano de Gabriel. Olhando-o desde que saíram, pensou que Gabriel vivia sob uma máscara, para fazer com que as pessoas não se aproximassem. Mas neste dia ele estava diferente. Parecia outra pessoa. Se topasse com ele na rua, até acharia que era um cara comum.
Felipe se afastou um pouco e foi procurar a garrafa de vinho que Sara havia lhe oferecido na noite anterior. Quando encontrou ficou pasmo. Ela estava no setor de importados e vinha dentro de uma caixa de madeira, toda estofada por dentro. O preço? Mil e quinhentos reais. Felipe ouviu um barulho de vidro se partindo. Olhou para o lado e um homem havia dado uma garrafada na cabeça de Gabriel que caiu sentado no chão. O homem apontando o dedo indicador para ele gritou.
- DESGRAÇADO FILHO DA PUTA! VOCÊ TIROU MINHA FILHA DE MIM!
            Gabriel tonto pela pancada, e sangrando, pois ela lhe tinha aberto um grande ferimento ao lado da sobrancelha direita, só teve tempo de dizer:
            - Mathias... O que... – não teve tempo de terminar de falar, o homem lhe enfiou um direto no mesmo olho que estava sangrando.
            Felipe estava sem reação, não sabia o que estava acontecendo e nunca havia entrado em uma briga. Correu na direção deles e o homem quando o viu, saiu correndo. O homem fez a volta no corredor e enquanto as pessoas corriam na direção de Gabriel ele saiu tranqüilamente pela porta. Era um homem grande, de um metro e noventa, forte e gordo, com uma pele clara e um cabelo penteado para o lado na tentativa de esconder as falhas. Felipe se ajoelhou ao lado de Gabriel tentando reanimá-lo. Gabriel abriu os olhos, olhou para Felipe e desmaiou. Felipe olhou para as pessoas paradas em volta e disse:
-          Que merda. PAREM DE OLHAR E CHAMEM UMA AMBULÂNCIA!
 
Gabriel acordou na cama de seu apartamento na Capital. O quarto estava vazio. Só havia a cama, e o teto parecia ter uns trinta metros de altura. Pareciam que haviam esticado as paredes laterais. As portas e as janelas estavam maiores. Sentou na cama e percebeu que estava vestindo um terno e camisa preta e uma gravata vermelha. Olhou em volta e não havia absolutamente nada. Procurou em seus bolsos e encontrou uma chave. Era a chave do carro de sua falecida mulher. Caminhou até a porta. Sentia uma ansiedade em sair logo daquele lugar. Atravessou a porta e estava em uma sala, muito semelhante a da casa de sua mãe, mas tudo era diferente. Era noite, e não havia cores no lugar, tudo parecia estar em tons pastel. Se olhasse de certo ângulo, a sala lembrava uma pintura barroca. Os móveis eram semelhantes ao da casa de sua mãe, mas pareciam envelhecidos. Não tinham toda aquela alegria e cor que a mãe adorava.  Aproximou-se de um quadro acima da lareira. Algo embaçava seus olhos e não conseguia enxergar. Olhou para o relógio e ele marcava exatamente seis horas e 28 minutos. Quando tirou os olhos do relógio percebeu que ele estava pendurado em um poste de uma estrada escura. Estava amanhecendo. Não havia nenhuma luz para nenhum dos lados. Até que o sol começou a nascer, e viu o carro de sua falecida mulher capotado próximo da estrada a sua frente. Ele correu na direção do carro, mas parecia que a cada passo que dava o carro distanciava-se mais. Quanto mais corria mais longe o carro ficava. As lágrimas escorriam no seu rosto, enquanto ele gritava o nome da mulher. Viu o carro começar a pegar fogo, e correu mais rápido. Parecia correr flutuando, pois o carro não se aproximava, parecia estar cada vez mais longe. Até que o carro explodiu e a força da explosão o jogou com força para trás. Estava agora deitado na mesa de um açougue. Haviam pedaços de carne penduradas por todos os lados e ele sentiu um pavor enorme. Logo viu uma sombra passar por entre os pedaços pendurados. Era Mathias. Ele estava com um olhar malévolo. Sério e compenetrado. Ele aproximou-se do ouvido de Gabriel e disse:
- Você a tirou de mim. E eu vou fuder a tua vida seu filho da puta desgraçado.
Gabriel só o olhou e não disse nada, mesmo com o pavor tomando conta de sua mente. Gabriel agora estava nu e Mathias pegou uma faca enorme no faqueiro exposto a sua frente. Olhou para Gabriel com um sorriso diabólico e começou a carneá-lo. Fez um pequeno corte na coxa de Gabriel e segurou firme a pele a partir do corte puxando-a para cima. A partir dali, foi passando a faca extremamente afiada tirando pedaços da pele dele. A única coisa que podia pensar era que tinha morrido e estava no inferno. Ele tirava pedaços e pedaços do corpo dele, olhando-o como se cortasse a gordura de um pedaço de carne de gado para o churrasco. A dor e a agonia de Gabriel fizeram uma aura escura espalhar-se pelo ar. Sentiu uma picada no braço e estranhou em meio a toda aquela dor, conseguir incomodar uma picadinha no braço.  Sentiu uma dor aguda na picada fechou os olhos e gritou. Quando acordou uma mulher vestida de enfermeira estava lhe colocando no soro. Estava em uma sala toda branca. Agora não sentia dor alguma. Seu corpo estava todo mole. Pensou que estava no hospital e seu momento não tinha chegado ainda. Ainda.

Felipe deixou o hospital às duas da manhã com Gabriel, que estava ainda meio grogue devido aos analgésicos. Ele havia tomado três pontos ao lado da sobrancelha, sob o curativo, seu olho estava roxo e meio inchado tapando-o pela metade. Felipe dirigia em direção a casa e cuidava o amigo, que observava a rua pela janela com um olhar distante. Nunca tinha dirigido um carro tão antigo como o Opala então demonstrava alguma dificuldade. Gabriel virou a cabeça para o lado de Felipe e disse com tom baixo:
- Você tem que trabalhar hoje ainda não é mesmo? Devia ter dormido cedo.  Desculpe por isso.
- Não tem problema Biel. Só ainda não entendi muita coisa. O que aconteceu no mercado? Você lembra alguma coisa? – perguntou Felipe inocentemente.
- Queria não poder lembrar.
Felipe preferiu não perguntar mais nada. Gabriel não disse mais nenhuma palavra. Quando chegaram ao apartamento, ele andou devagar até o quarto, desligou a luz e deitou-se na cama. Felipe foi até o quarto do amigo, olhou ele deitado e foi se arrumar para dormir. Trocou de roupa, ajustou o despertador e deitou-se na cama. Logo adormeceu.

Felipe acordou cedo. Banhou-se, tomou café e saiu com a receita médica dos analgésicos que Gabriel devia tomar. O apartamento era muito bem localizado. Havia tudo perto, farmácias, mercados, shoppings, hospitais, escolas e o mais importante para ambos, o jornal. Felipe foi à farmácia que havia a uma quadra de distância, comprou os remédios e voltou para casa. Deixou um bilhete ao lado da cartela de comprimidos dizendo que Gabriel tomasse um a cada 12 horas. Era um remédio forte. Felipe serviu-se de mais uma xícara de café e sentou no sofá da sala. Ainda não entendia muito bem o que havia acontecido na noite anterior. Quem seria aquele homem? Pai da falecida mulher dele? E qual era a causa de toda aquela raiva? Pensando em algumas respostas não chegou à conclusão alguma. Olhou para o relógio da cozinha e estava na sua hora de ir. Tomou o restante do café, levantou e saiu.
Felipe chegou ao jornal quinze minutos antes. Gostava que fosse assim para rever tudo que tinha de fazer ao longo do dia. Olhou em volta e Cristina e Patrícia ainda não haviam chegado. Queria contar-lhes o que havia acontecido procurando algumas respostas. Percebeu que era observado e quando olhou viu que era a garota que havia dormido com Gabriel. Quando ele olhou para ela, ela desviou o olhar para o computador a sua frente. Seguiu para sua mesa, e passando pela mesa do seu chefe percebeu um bilhete preso ao teclado. Leu discretamente enquanto passava.

Marina 5762-4625
Adorei a noite

            Marina era uma garota de seus 25 anos, cabelos ruivos, pele clara, olhos verdes, e um corpo muito convidativo. Sempre usava decotes e calças bem coladas ao corpo mostrando perfeitamente suas curvas. Felipe cortou o pensamento sobre o corpo de Marina ao ver Cristina sair do elevador. Levantou e seguiu-a até a sua mesa. Ela sentou-se e ele sentou na cadeira a sua frente. Contou a ela tudo que havia acontecido na noite anterior. Ela ouviu-o com um aspecto de pavor. Deixou Felipe terminar e disse:
            - Meu deus do céu. Mas quem era esse homem? Porque ele fez isso?
            - Não sei. Por isso vim lhe contar, pra encontrar respostas – disse Felipe.
            Por trás dele chegava Patrícia e Cristina pensativa perguntou-lhe.
            - Paty, qual era mesmo o nome do ex-sogro do Gabriel? Aquele que brigou com ele uma vez e tomou uma surra?
            Patrícia pensou por um momento e respondeu:
            - Era Mathias eu acho. Mas por quê? O que aconteceu? E onde está o Gabriel?
            Felipe virou-se para ela e contou toda a história novamente. Quando concluiu Patrícia ficou chocada e demonstrou uma preocupação que tentava esconder.
            - Mas e ele está bem agora? – perguntou - Bom vamos para a minha sala pra conversar sobre isso – disse ela caminhando em direção a sua sala.
            Os dois a seguiram e sentaram nas cadeiras a sua frente. Ela sentou-se devagar não conseguindo esconder a preocupação com a história. Sacudindo a cabeça com os olhos baixos disse:
            - Que droga. Esse Mathias é um grande filho da mãe. O que aconteceu foi o seguinte. Ele nunca gostou do Gabriel desde o inicio do namoro dos dois. Demonstrava sempre o quanto desprezava o relacionamento deles. Ele era do tipo que fazia questão de convidar o ex-namorado dela, que era, um riquinho filho de um amigo dele, para as reuniões de família, e ainda dizia na frente de todos que aquele era o genro dos sonhos dele. E você eu não sei Felipe, mas a Cris sabe bem como o Gabriel é. Sempre tem uma resposta na ponta da língua. E quanto mais irritado estiver, mais baixas são as respostas. O que aconteceu foi que em um dessas reuniões de família, que o Biel ia só por respeito a ela, esse Mathias bebeu demais e começou a ofender o Gabriel. Disse que ele era um pé rapado sem estrutura familiar, que não tinha onde cair morto. Que havia pagado um colégio caro e uma faculdade mais cara ainda, para ver a filha com um qualquer. E neste momento, até os familiares dele estavam dizendo incomodados com a situação. A falecida então começou a brigar com o velho para que ele parasse com aquilo. E nisso, ele deu um tapa na cara dela, dizendo que ela era uma vagabunda por andar por aí com um vagabundo desses. Isso o Biel não admitia. Ele voou pra cima do velho e quebrou dois dentes dele com um único soco. A partir daí deu uma grande confusão, a família separou a briga e ela saiu de casa pra morar com o Biel. Eles estavam a dois meses de se formar. Terminaram, foram para a capital e ela não falou com o pai nunca mais. Isso é o que eu sei que ele me contou antes de ir embora.
            Felipe e Cristina estavam com uma aparência de espanto e atenção.
            - Nossa. Eu não sabia de nada disso – disse Cristina.
            - Eu então não fazia idéia – afirmou Felipe.
            - Bom, mas vamos trabalhar que já passou da hora não é mesmo. E Felipe, quando você for embora me avise que eu vou passar lá na casa de vocês pra ver como ele está – disse Patrícia de forma autoritária.
            Felipe acenou que sim com a cabeça e Cristina adiantou-se.
            - Vou junto. Ele deve estar precisando de todo o apoio agora.
            Felipe e Cristina foram para suas mesas e seguiram suas rotinas.

            Próximo das 22 horas Patrícia aproximou-se da mesa de Felipe com ar de cansada.
            - Felipe, estou pronta. Quando quiser podemos ir.
            - Ok. Mais dois minutos e estou pronto – respondeu ele.
            - Certo. Vou descendo. Te espero lá em baixo.
            Felipe terminou de postar a ultima reportagem do dia e acenou para Cristina ainda sentada na sua mesa. Ambos desceram, encontraram Patrícia no saguão e seguiram em direção ao carro dela. Entraram e ela estava inquieta. Cristina sentou ao seu lado e Felipe sentou no banco de trás. Patrícia olhou para trás buscando Felipe e disse:
            - Será que ele está bem?
            Felipe prontamente respondeu:
            - Acho que sim. Ele tinha tomado muitos analgésicos. Deve estar dormindo até agora.
           Estacionaram a frente do prédio de Felipe. Felipe fez uma pausa em frente à porta de seu apartamento para procurar a chave. Abriu a porta e logo olhou pelo chão, milhares de cartões de feliz aniversário, Natal, entre outros, espalhados pelo chão. Os três foram correndo os olhos pelo chão, mais adiante estavam fotos de casamento e um álbum rasgado ao meio. Mais adiante, estava a cartela dos analgésicos que Felipe havia comprado completamente vazia ao lado de uma garrafa de vodca deitada com boa parte do líquido derramado pelo chão. Deram uns passos a frente para ter uma visão maior e viram Gabriel atirado no chão de bruços parecendo estar inconsciente. Felipe correu em sua direção e virou-o. Patrícia e Cristina ficaram paralisadas com a cena. Felipe viu que Gabriel não estava totalmente fora de si. Ainda respirava dava gemidos tentando falar. Ele olhou ao redor sem saber o que fazer. A única coisa que pode pensar era em levá-lo para o chuveiro. As duas ainda estavam paralisadas enquanto ele o carregava para o banheiro. Colocou-o no Box, mudou o chuveiro para o frio e abriu a torneira. Gabriel começava a acordar. Felipe voltou para a sala e disse para Cristina.
            - Cris, as coisas do café estão no armário em cima da cafeteira. Faça um café bem forte – ela meio perdida em meio a situação seguiu para a cozinha.
             Felipe deu um banho gelado em Gabriel, trocou sua roupa molhada, e nisso Cristina observava e ajudava, não deixando de observar o corpo dele tentando desviar-se de pensamentos maliciosos. Gabriel estava com uma cueca samba-canção sentado ao sofá com Felipe de um lado e Cristina do outro lhe dando café. Patrícia estava sentada na mesa de centro observando. Quando percebeu que ele estava recobrando a consciência ela não hesitou em perguntar:
            - Biel o que aconteceu?
            Ele olhou-a nos olhos com um olhar infantil de quem havia feito uma sacanagem e começou a falar com lágrimas nos olhos.
            - Nós brigamos – disse ele ainda com a voz muito fraca. Parecia que estava bêbado – na noite anterior. Brigamos por um motivo idiota. Brigamos e dormimos sem, nem mesmo, dizer uma palavra um ao outro. Ela havia ficado muito brava, e eu por ser orgulhoso, não admiti que a culpa era minha, que eu era um idiota. E mesmo assim, quando acordei antes dela, ela havia deixado um bilhete na porta da geladeira dizendo que me amava. Quando acordei, lhe dei um beijo na testa e fui me arrumar, pois estava atrasado para variar. Ela sempre acordava junto comigo para tomarmos café, e neste dia ela dormiu até mais tarde. Saiu do trabalho atrasada e correndo. Pegou o carro e foi trabalhar. O pneu furou e ela não conseguiu controlar, estava rápido demais. O carro bateu no meio fio e capotou oito vezes. Ela deve ter morrido lenta e dolorosamente e eu nem pude dizer, por uma ultima vez o quanto a amava. Eu já estava no jornal na hora que me ligaram. Ligaram para mim e para aquele filho da puta do Mathias que chegou antes de mim no hospital. Ele jogou toda a culpa em mim ali mesmo, sobre o corpo da filha dele. Tive que ouvi-lo dizer milhares de barbaridades boca fora no velório, e em respeito a ela não fiz nada – nesse momento as lágrimas começaram a escorrer – Depois disso foi só sofrimento. Bebi e cheirei tudo que tinha. E agora estou aqui, com sono. Vou-me deitar.
Levantou-se meio tonto e Felipe lhe agarrou pelo braço para ajudá-lo a caminhar até a cama. Patrícia foi acompanhando. Patrícia virou-se para Cristina e disse:
- Cris, se quiser ir para casa pode ir. Vou ficar para cuidar dele.
Cristina ficou pasma com a reação da amiga. Neste momento, não teve dúvidas que ela sentia um sentimento forte por Gabriel. Patrícia ajudou Felipe a colocá-lo na cama e disse para que ele fosse fazer suas coisas que ela cuidaria dele a partir daquele momento. Tanto Felipe, quanto Cristina não entendiam a reação dela. Era totalmente fora do que ela demonstrava todos os dias anteriores. Mesmo sem entender, Felipe acompanhou Cristina até a porta e depois foi jantar para depois tomar banho e dormir.
Patrícia colocou sobre a cômoda sua bolsa e seu casaco e sentou-se no outro lado da cama. Ficou por um tempo observando Gabriel em um sono profundo. Começou a refletir sobre o quanto ele devia ter sofrido em silêncio e o que deveria ter passado pela cabeça dele desde a morte da esposa. Ele finalmente havia encontrado a felicidade, uma mulher que ele amava de uma forma tão pura e incondicional. Que o compreendia, o completava e o fez mudar da água para o vinho. Ele havia deixado uma vida onde noitadas regadas a um excesso de sexo, bebidas e drogas eram uma coisa comum, para entregar-se a uma única mulher. Lembrou do brilho que ele tinha no olhar ao falar dela, como se falasse de seu maior ídolo. Devia mesmo ser. Nem ele acreditou que ela o faria mudar daquela forma.
Começou a lembrá-lo na faculdade antes dela entrar em sua vida. Sempre rodeado de belas garotas, com as quais a maioria já havia transado. Era o tipo de homem atraente e misterioso, que atiçava a curiosidade das mulheres no sentido sexual da coisa. Fazia-as pensar o porque todas aquelas garotas sempre o rodeavam mas ele nunca estava com alguma delas especificamente. Gostava de cumprimentá-las com abraços apertados, com leves puxões pelos cabelos da nuca, deitar-se nos seus braços para receber carinho, ou tê-las em seus braços para acariciá-las. Até mesmo as que eram comprometidas, gostavam de conversar com ele para serem aconselhadas, às vezes, até mesmo sobre como elas deviam agir com os namorados na cama. E se os namorados não dessem conta do recado, com certeza ele acabava dando, até por algumas vezes acabando com relacionamentos.
Não era o melhor aluno na faculdade, mas ganhara o respeito de muitos professores pela simpatia e personalidade forte. Coisa que o fez ser respeitado também por muitos colegas. Alguns até precursores de milhares de boatos sobre ele, que o fez ganhar uma enorme fama. Alguns boatos ninguém sabia se era verdade, pois ele não falava sobre nada, tanto que se alguém ficasse sabendo de alguma coisa, era certo que havia partido da outra pessoa envolvida. A história sobre uma jovem professora que havia entrado na faculdade, que segundo alguns alunos e professores que eles haviam transado dentro da sala ao final da aula, foi a de maior repercussão. Ele sempre afirmou que eles ficaram conversando sobre música, assunto que ele dominava muito bem, mas ninguém dava bola para isso, queriam era ter o que falar. Ele raramente se intrometia na vida ou falava sobre alguém. Gostava de falar as coisas na cara das pessoas. Preferia que as pessoas soubessem o que ele pensava sobre elas ou sobre seus atos, mas raramente falava sem que lhe fosse perguntado, e se perguntassem deviam estar prontos para ouvir toda a realidade sobre o assunto.
Neste momento, Patrícia já estava descalça deitada na cama ao lado dele. Deu mais uma olhada para ele para ver se estava tudo certo e fechou os olhos. Logo adormeceu.